sexta-feira, 15 de abril de 2011

CRISE NA ADORAÇÃO!

           Existe um pensamento que afirma: “tudo é relativo”. Esta declaração significa que cada indivíduo pode ter o pensamento que quiser acerca de tudo, porque não existe verdade absoluta. Cada um tem a sua verdade. Esse modo de ver a existência também tem sido aplicado à igreja. As pessoas estão em busca de satisfação pessoal no culto. Muitos pregadores modernos afirmam: - “O importante é você sair com alegria em seu coração, sentir profundas emoções, pois o foco principal é sua satisfação.”
         A forma de adoração, no meio evangélico, muda de acordo com a denominação, igreja local e região. Em algumas igrejas o culto é constituído de muitos hinos, orações, testemunhos e uma mensagem “revelada na hora”. Outras têm uma forte ênfase nos cânticos, 95% do tempo é constituído deles e restam 5% para uma “pregação objetiva”. Em outras igrejas existe  o “culto do amor”,  o “culto da prosperidade”, o “culto do empresário”, o “culto da libertação”..., só não existe o culto bíblico! Portanto, temos no território brasileiro uma variedade muito grande de “cultos”. Tem “adoração” para todas as preferências litúrgicas.
         Mas, no meio reformado, como vai a adoração? O nosso culto é formal e com bastante ordem. Procuramos seguir os princípios de adoração estabelecidos pelas Escrituras. Não defendemos “o relativismo litúrgico”, porém, cremos nas verdades absolutas da Palavra de Deus. Ela é o principio regulador para a liturgia. É verdade que você não encontrará na Bíblia um manual litúrgico com todos os passos para o culto. Mas, encontrará princípios reguladores para a adoração bíblica, estabelecidos por Deus.
         Temos ouvido de muitas pessoas nas igrejas reformadas que o culto que prestamos a Deus é excessivamente formal. Uma formalidade que causa frialdade nas pessoas. Será que o problema em nossa adoração é a formalidade? Pensemos um pouco sobre isso. Se o problema é este, por que as igrejas que tem um culto aberto a qualquer expressão emocional e física (a maior parte das igrejas em nosso país) não causam uma mudança positiva na sociedade? Porque essas igrejas estão em grande parte envolvidas em escândalos morais e financeiros?
Podemos afirmar que a emoção na adoração é um fator determinante na adoração? Cultos cuja ênfase está na emoção e experiência glorificará a Deus ou aos homens? Em um culto cheio de incentivos a emoção não poderá estar cheio de sentimentos forçados pelo ambiente e vazios de verdadeira espiritualidade? O Espírito Santo precisa de ajuda para produzir emoção genuína? O emocionalismo pode substituir o Espírito de Deus? A emoção  não pode ser enganosa? Estas perguntas e outras só podem ser respondidas satisfatoriamente pela Escritura. Contudo, podemos ver que pelos frutos desta liturgia “pirotécnica” não temos grandes mudanças em nossa nação para o bem. Ao contrário, o nome de Cristo é progressivamente banalizado e profanado no meio dos ímpios, por causa de alguns pastores e crentes. Podemos usar a regra que o próprio Senhor Jesus nos ordenou usar com respeito aos falsos profetas (Mt. 7.16): “Pelos seus frutos os conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos?”
         É importante perguntarmos se a adoração bíblica é mais um ato da razão regenerada  guiada pelas Escrituras, ou um ato orientado pela loucura da emoção desenfreada? O Teólogo Charnock esclarece este ponto, dizendo:
A adoração é um ato do entendimento, que se concentra sobre o conhecimento das excelências de Deus e sobre os pensamentos a respeito da majestade dele... Também é um ato da vontade, por meio do qual a alma adora e reverencia a majestade de Deus, encanta-se diante de sua amabilidade, abraça a sua bondade, entra em uma comunhão íntima com esse mais amável dos objetos e deposita nele todos os seus afetos.
         Para adorar a Deus é preciso conhecê-lo. Como podemos conhecê-lo? Por meio de Sua Palavra. Então, a Bíblia deve ter proeminência no culto e não os entretenimentos. A emoção faz parte de uma verdadeira adoração, mas a emoção forçada pelo entretenimento é emocionalismo, portanto pecado. Quando a emoção governa nossas ações, agimos irracionalmente e permitimos que o nosso ego, orgulho e vontade sejam o centro da adoração, deixando Cristo de lado e colocando o homem no centro.
         A crise na adoração em algumas de nossas igrejas é resultante de uma crise nos adoradores. O problema não esta na formalidade, mas em nós. Um grande exemplo disto é a adoração patriarcal na família de Adão. Seus filhos prestavam culto de tempos em tempos e Caim foi rejeitado e Abel aceito. Por quê? A razão é simples, Caim era do maligno (1 João 3. 11-12). Não importa a oferta ou a dedicação externa, se não for precedido de coração quebrantado e contrito, Deus nunca aceitará (Salmo 51. 16-19). Em Isaías 1, é dito que o Senhor deseja que o povo não entrasse nos seus átrios. Temos que entender uma verdade absoluta: Deus não precisa do homem pra nada, mas o homem depende e precisa de Deus para tudo! O privilégio é todo nosso em termos a permissão de adorá-lo.
Como era o culto no Antigo Testamento? Imaginemos a luz das narrativas: “Você acharia agradável cultuar a Deus vendo uma quantidade enorme de cordeiros sendo mortos e o sangue deles sendo derramado em um espaço onde poderia ser acumulado ao nível do joelho do ministrador? Para somar, um terrível mal cheiro e moscas por todo o lugar?” Pois bem, era esse culto que Deus tinha ordenado para o povo de Israel no Antigo Testamento. Vejamos um exemplo no Antigo Testamento, em 2 Crônicas 29.35: “Além dos holocaustos em abundância, houve também a gordura das ofertas pacíficas e as libações para o holocaustos. Assim, se estabeleceu o ministério na casa do SENHOR.  O resultado desse culto foi o seguinte (2 Cr 29.36): Ezequias e todo povo se alegraram por causa daquilo que Deus fizera para o povo, porque subitamente, se fez esta obra. No capítulo seguinte no verso 27 é dito sobre a celebração da Páscoa: Então, os sacerdotes e os levitas se levantaram para abençoar o povo; a sua voz foi ouvida, e a sua oração chegou até à santa habitação de Deus, até aos céus.” 
         O culto que o povo prestou nos dias do rei Ezequias foi agradável a Deus porque estava de acordo com as prescrições bíblicas. O povo não só obedeceu externamente, fazendo tudo que era mandamento para cultuar Jeová, mas estava com o coração quebrantado diante do Senhor. O que realmente nos falta para termos uma adoração bíblica é cultuarmos a Deus com o espírito quebrantado, o coração compungido e contrito, porque adoração assim Deus não desprezará (Sl 51. 17).  Este coração contrito só será realmente aceito se todo o processo litúrgico for regido pelas Escrituras. É importante sabermos que; “Não apenas a adoração a falsos deuses é proibida nas Escrituras, mas também a adoração ao verdadeiro Deus com uma atitude errada.”
Somente a Glória a Deus!
Reverendo Márcio Willian Chaveiro